A vida nestes navios era muito dura. As tripulações, mal abrigadas do tempo, dormiam quase sempre no convés. Só os principais dispunham de um pequeno cubículo no castelo da popa. Dormia-se vestido e andava-se descalço.
As grandes velas latinas das caravelas, em vergas que excediam o comprimento do navio, requeriam uma atenção constante, eram de difícil manobra com ventos fortes e, quando molhadas, eram muito pesadas.
Com intervalos de alguns meses, a caravela tinha de ser carenada numa praia. A madeira do forro do casco era limpa dos limos que reduziam a velocidade e era protegida contra o teredo (molusco que perfura as madeiras imersas e muito ativo em águas quentes). O calafeto também era reparado e reviam-se o massame, as velas e a mastreação.
No convés, que por ser de madeira tinha de ser molhado diariamente para se manter estanque, além do batel, dos remos, vergas e sobressalentes e alguns abastecimentos, muitas vezes havia galinhas e outros animais vivos para consumo durante a viagem, tudo isto bem amarrado e em locais que não estorvassem a manobra. O resto da carga era arrumada no convés e no porão (situado por baixo do convés e onde, além do lastro de pedras, se guardavam os barris com água e vinho, os abastecimentos, velas, cabos etc).
A água das infiltrações do forro e do convés acumulava-se no fundo e tinha de ser retirada. Os barris com os balanços acabavam por derramar. Os mantimentos embarcados em Portugal, à base de pão, biscoitos, carne salgada e peixe seco, azeite, mel e frutos secos, depressa se estragavam, no ambiente quente e húmido. E os ratos e as primas ratazanas sempre foram hóspedes indesejáveis a bordo dos navios de todos os tempos.
A água doce, em barris de madeira, era um bem precioso que se tinha de poupar. Após algumas semanas, sobretudo em climas quentes, inquinava.
Quando o tempo permitia, cozinhava-se uma refeição quente no convés, num local abrigado do vento. O lume era de carvão ou lenha e ardia sobre terra ou areia.
A pesca, mesmo a navegar, era uma ocupação frequente. Logo que se chegava a terra procurava-se água, alimentos frescos e lenha.
O frio, o calor e a humidade eram suportados sem equipamento nem vestuário mais conveniente. As doenças causadas pela má alimentação e as doenças tropicais eram rudimentarmente tratadas. Sem comunicação com o exterior e sem apoios em terra, as tripulações estavam entregues a si próprias. Muitos não regressavam a casa, mas a maioria dos que voltavam tornava a partir.
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