A Real Abadia de Alcobaça (ou Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça) foi um senhorio eclesiástico com um território de quase 500 km², situado entre a Serra dos Candeeiros e o Atlântico, tendo a sua sede no Mosteiro de Alcobaça. Estas terras foram doações régias de D. Afonso Henriques ao abade da Ordem de Cister, Bernardo de Claraval (carta de couto do ano de 1153). Ao longo de vários séculos, a abadia foi um centro espiritual do país, com grande autonomia, o seu abade foi um dos mais altos conselheiros do rei.
Segundo reza a lenda, aquando da Reconquista, D. Afonso Henriques prometera construir um mosteiro em homenagem à Virgem Maria, caso ele conseguisse conquistar aos mouros a importante fortaleza de Santarém. Em 1147, deu-se finalmente a vitória, tendo D. Afonso Henriques cumprido o prometido, oferecendo o território de Alcobaça a Bernardo de Claraval (estes acontecimentos encontram-se documentados nos azulejos azuis das paredes da Sala dos Reis do Mosteiro que datam do século XVIII).
Em 1178, os cistercienses iniciaram a construção do Mosteiro, tornando-se este um dos mais ricos e poderosos da Ordem de Cister.
Quando em 1147, conquistou Lisboa, Sintra, Almada e Palmela aos mouros o reconhecimento da independência de Portugal era quase certo. Contudo, o reconhecimento do Papa chegou somente no ano de 1179 através da bula “Manifestis Probatum” de Alexandre III (na Sala dos Reis do Mosteiro encontra-se representada a coroação imaginária de D. Afonso Henriques por Bernardo de Claraval e pelo Papa Inocêncio II (1130 - 1143) num grupo de figuras de barro em tamanho real que datam do século XVIII).
A entrega aos mosteiros de terras conquistadas aos mouros durante a Reconquista correspondia a uma política de povoamento geral, destinada a pacificar o território ocupado e a converter os novos súbditos. Desta forma, na luta pela independência, D. Afonso Henriques entregou em 1127 Vimieiro à congregação beneditina de Cluny; em 1128 entregou Soure aos Templários; em 1131, fundou o Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra; entregou Tomar aos Templários em 1159 bem como, em 1169, um terço do território conquistado no Alentejo. E outras doações se seguiram.
Doze monges cistercienses e um abade tomaram posse do terreno pertencente ao Mosteiro e construíram, a poucos metros do atual Mosteiro e junto ao rio Alcoa, a abadia provisória de Santa Maria. Quando, no ano de 1178, foram iniciadas as obras de construção da igreja e das primeiras divisórias do Mosteiro, o território ainda não se encontrava pacificado, sendo a construção atrasada pelas investidas dos mouros. No massacre de 1195, muçulmanos vindos de Marrocos, penetraram em terras cristãs e assaltaram o Mosteiro em construção, tendo morto os 95 monges que aí se encontravam a trabalhar. Só no dia 6 de Agosto de 1223, os monges abandonaram a velha abadia, mudando-se para o novo Mosteiro. O túmulo do terceiro rei de Portugal, D. Afonso II, falecido em 1223, foi acolhido nesta igreja em 1224. Contudo, as obras só terminariam em 1240, dando-se a consagração em 1252.
O território cedido aos cistercienses e que, anteriormente, tinha pertencido aos mouros, provavelmente não tinha sido utilizado para a agricultura, devido às inúmeras guerras que se passavam nesse local. Os monges iniciaram de imediato o seu povoamento através da criação de granjas habitadas por colonos obrigados a prestar contas à abadia. O abade de Alcobaça tinha o privilégio de poder tomar decisões judiciais sem a confirmação do rei, pelo que alguns fugitivos e alguns criminosos encontravam aqui protecção.
Deste modo, os monges cultivavam e povoavam rapidamente as terras, possuindo um grande poder.
No século XIII, o Mosteiro possuía dois portos (Alfeizerão/São Martinho do Porto situados na Lagoa de Alfeizerão, e Pederneira, hoje uma parte da Nazaré), possibilitando aos monges a prática da pesca, a exportação de vinho e de sal, extraído das salinas da lagoa que existia desde a Pederneira (Nazaré) até poucos quilómetros de Alcobaça. Mais tarde, exportavam azeitonas e azeite, nozes, frutos secos e madeira. Em 1368 e em 1374, por meio de uma doação do rei D. Fernando, o domínio da abadia foi ainda mais alargado com novos territórios. Devido à grande experiência dos monges, os reis pediam-lhes o seu auxílio para a secagem de pauis noutras zonas do território português. Em troca desse auxílio a abadia recebia feudos.
O sucesso económico trouxe consigo uma considerável afluência populacional, o que obrigava a um permanente alargamento das instalações do Mosteiro. Até ao início do século XV, os monges desenvolveram uma grande atividade, cultivando as terras e desenvolvendo a agricultura, dedicando-se à pesca, extraindo sal e ferro, desenvolvendo a arte de forjar, promovendo o artesanato e educando os colonos. Os primeiros monges, monges brancos, tiveram uma acção civilizadora notável: em 1269, criaram uma das primeiras escolas públicas do ocidente, cuja transferência, em 1290, para Coimbra, deu origem à Universidade de Coimbra. Também tiveram um grande incremento as oficinas de imaginária da Abadia e desenvolveram-se ações de assistência e beneficência através da enfermaria.
O abade de Alcobaça era membro das cortes, era o padre principal do rei, tornando-se numa das pessoas mais importantes do reino e tinha o título de Dom Abade do Real Mosteiro de Alcobaça, do Conselho de Sua Majestade, Esmoler-Mor, Donatário da Coroa, Senhor dos Coutos e Fronteiro-Mor. No seu território a abadia não era obrigada a recrutar tropas para o rei.
A partir de 1475, o Mosteiro, que sempre elegeu autonomamente os seus abades, encontrou-se sob a influência de abades colocados pelo rei (os abades comendatários). Em 1531 Afonso de Portugal (1509-1540), o quarto filho do rei D. Manuel I e irmão do futuro rei D. João III (1502-1557), tornou-se abade de Alcobaça, sendo simultaneamente bispo de Lisboa e cardeal. Após a sua morte, D. João III proclamou o seu irmão Henrique (1512-1580) abade, que era, igualmente, arcebispo de Lisboa bem como inquisidor-mor de Portugal, tornando-se, mais tarde, cardeal. Dois anos antes da sua morte, o cardeal D. Henrique foi proclamado rei de Portugal. Esta ligação íntima do cardeal com a Casa Real - que escolhia o abade há mais de 50 anos -, levou, no ano de 1567, a que o Papa Pio V decretasse numa bula a independência da Ordem dos Cistercienses em Portugal.
A Congregação Autónoma dos Cistercienses de São Bernardo de Alcobaça tornou-se dirigente de todos os mosteiros cistercienses portugueses. Tanto a Ordem de Avis como a Ordem de Cristo, a sucessora da Ordem dos Templários em Portugal, estavam subordinados à sua jurisdição.
Após a Restauração da Independência (1640), o Mosteiro sofreu um alargamento (dois novos claustros) e profundas alterações, sendo, nessa altura, construída a cozinha nova que ainda hoje impressiona. A partir de 1702, o Mosteiro recebeu a sua magnífica fachada barroca, tendo a igreja obtido os seus dois campanários. Em 1755, a construção terminou com a criação da Biblioteca, sendo esta, naquela época, uma das maiores da Península Ibérica. O facto de ter sido criada deve-se ao surgimento de inúmeros monges cronistas e historiadores (como Frei Bernardo de Brito, Frei António Brandão e Frei Fortunato de São Boaventura). Estes monges tornaram-se conhecidos como Cronistas de Alcobaça. Eles publicaram durante séculos a Monarchia Lusitana, uma obra que tratava da História de Portugal.
O Mosteiro foi pilhado pela população em 1833 (no contexto das lutas liberais) tendo desaparecido muitos objectos utilitários, de culto e de arte e uma grande parte do acervo da Biblioteca, cujos restos só alguns anos depois puderam ser transferidos para a Biblioteca Nacional em Lisboa. Depois disso, em 1834 decretou-se o encerramento dos mosteiros, revertendo as suas riquezas a favor do Estado. Muros foram derrubados, o pelourinho eliminado, na ala sul do Mosteiro foram criadas habitações e a parte norte passou a ser utilizada por serviços públicos e pelo comércio. O refeitório, existente desde os tempos da Idade Média, foi transformado numa sala de teatro em 1840, existindo até ao ano de 1929. No claustro mais recente, o Claustro da Biblioteca ou Claustro do Rachadoiro, foi inserida uma arena destinada a touradas (1866/68). As partes mais recentes do Mosteiro passaram a ser utilizadas pela cavalaria, transformando-se mais tarde num lar para deficientes e idosos. Os edifícios do Mosteiro entraram em decadência. Só a partir de 1929, o Estado, com a ajuda dos serviços responsáveis pelos monumentos, começou a reparar a Igreja e o Mosteiro, restituindo-lhes o seu aspecto original. Nos anos 1990, a ala sul do Mosteiro passou novamente para o domínio do estado e os dois claustros, juntamente com as suas construções datadas dos séculos XVI a XVIII, foram restituídos, apenas, em 2003. A igreja e a parte medieval foram considerados património mundial pela UNESCO em 1989.
Agora tentem responder a estas questões sobre o Mosteiro de Alcobaça:
1 - O que distingue um senhorio laico de um senhorio eclesiástico?
2 - Podemos considerar a Abadia de Alcobaça um senhorio? Justifique.
3 - Que poderes e direitos tinham os monges de Alcobaça nos seus extensos domínios?
4 - Discrimine as atividades económicas praticadas nos coutos de Alcobaça.
5 - Como se explica a generosidade de D. Afonso Henriques para com as ordens religiosas?
6 - Explique a importância cultural da Abadia de Alcobaça.
Para todos os que tiverem curiosidade, podem fazer uma visita virtual aos principais espaços do mosteiro aqui.