Depois da queda do Império Romano do Ocidente, tem início uma época que se estende, em traços gerais, até ao ano 1000, e a que os historiadores convencionaram denominar Alta Idade Média.
A principal característica deste período é a fragmentação do território europeu, após a desintegração do mundo romano, surgindo inúmeros reinos liderados por povos germânicos (Bárbaros): francos, visigodos, ostrogodos, burgúndios...
Tradicionalmente considerou-se esta Europa da Alta Idade Média como um mundo regido pela barbárie e pela ignorância - uma idade das trevas. Esta visão formou-se, em grande medida, pela comparação entre este período e o do esplendoroso mundo romano, época de grande desenvolvimento da civilização ocidental.
Contudo, deslumbrados pelo mundo romano e pelas suas instituições , os povos bárbaros tentaram, à sua maneira, recuperar o legado latino, de tal forma que o extinto império romano seria sempre uma referência a alcançar.
Uma das tentativas de reconstrução do império romano foi levada a cabo por Carlos Magno, rei dos francos (século VIII), quando uniu sob a mesma coroa extensos territórios: as fronteiras do reino Franco estender-se-ão até à Península Ibérica e à Europa Central (Itália, Alemanha, Saxónia, Dácia...) chegando ao rio Danúbio. Daí o seu cognome Carlos Magnus (Grande), que se fez coroar como imperador, em Roma, pelo Papa Leão III, igualando-se aos imperadores do Oriente, assumidos como os autênticos herdeiros dos imperadores romanos.
Os seus projetos de criação de um grande império depararam-se, no entanto, com inúmeros problemas:
- primeiro, havia que contar com um novo poder (o da cruz), consolidado durante a última etapa do império romano: o Papado, cada vez mais poderoso, disputa com os príncipes cristãos o poder temporal (o deste mundo);
- por outro lado, no Oriente, mantém-se o verdadeiro herdeiro do império romano, denominado agora Bizantino, que alcança um grande desenvolvimento económico, político e cultural (principalmente no tempo de Justiniano, a idade de ouro bizantina). As relações entre Bizâncio e o Papado, disputando ambos o domínio sobre a cristandade, passarão por momentos de tensão e confronto;
- dividido entre vários poderes, o mundo cristão será obrigado a unir-se para fazer frente a uma ameaça comum: a expansão do Islão. A nova religião liderada por Maomé estende-se desde a Península Arábica tanto para Oriente, até à Índia, como para Ocidente, até às fronteiras do reino Franco. Na Península Ibérica, o mundo muçulmano terá uma definição própria, Al-Andaluz, criando um esplendoroso estado islâmico com capital em Córdova. A partir desse momento, e nos séculos seguintes, o Islão desempenhará um papel de relevo nas relações internacionais;
- a intenção de restaurar o esplendoroso passado romano chocará também com a multiplicidade de poderes existente. A nobreza feudal acumula os seus próprios poderes: domínios territoriais, exércitos próprios, alianças familiares, exploração das populações rurais em seu benefício. Perante os nobres, o poder do rei tem pouca base de sustentação, sendo considerado quase como o "primeiro entre iguais".
Perante a nobreza guerreira, numa época de grande servidão, o povo refugia-se na fé cristã, fortemente disseminada a partir dos inúmeros mosteiros criados de acordo com a Regra de São Bento. Verdadeiros oásis de paz num mundo em convulsão, seguindo a máxima "reza e trabalha" (ora et labora) a leitura e o trabalho convertem-se em métodos de aproximação a Deus.
A Igreja enfrenta também outro dos seus inimigos: a bruxaria e a magia, pois na época subsistia um acentuado apego ao mágico, continuando presentes na sociedade as tradições pagãs. Para desenraizar este paganismo, a Igreja põe em marcha uma série de iniciativas que conduzirão à cristianização da vida privada, criando novos espaços sagrados, afirmando o culto das relíquias, promovendo novas celebrações litúrgicas ou procissões.
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