quinta-feira, 14 de junho de 2018

REFORMA E CONTRARREFORMA


Para organizar ideias sobre este tema, aqui ficam algumas sínteses esquemáticas sobre a problemática conjuntural da Reforma e Contrarreforma (escrever assim dá-me voltas ao estômago - o diabo mais o acordo ortográfico - pronto, desta maneira já tinha o Tribunal do Santo Ofício atrás de mim...).



quarta-feira, 16 de maio de 2018

ALGUMAS ORIENTAÇÕES PARA A APRESENTAÇÃO INDIVIDUAL SOBRE UM ARTISTA DO RENASCIMENTO

Da apresentação em powerpoint devem constar:
  • pequena biografia do autor, apenas com dados fundamentais sobre a sua vida e obra;
  • destaque de algumas das suas principais obras; 
  • apresentação de uma obra (a que mais gostarem ou que considerem mais importante) e respetiva análise. Ao realizar a análise devem destacar os elementos presentes que tornam aquela obra característica do período em estudo (Renascimento).
Não esquecer que todas as obras apresentadas à turma devem ser devidamente identificadas.
No caso das pinturas e esculturas analisadas deverão, ainda, clarificar o título/ tema abordado, bem como as técnicas utilizadas na sua realização (principalmente na pintura). 
Se possível, referir as dimensões, a data e o local da sua produção, quem a encomendou e onde se encontra na atualidade.
Não esquecer também (principalmente na pintura), sempre que possível, analisar o seu conteúdo e o seu sentido simbólico.

Agora vamos lá trabalhar que o tempo passa a correr!

quinta-feira, 10 de maio de 2018

O RENASCIMENTO EM PORTUGAL

Renascimento é um fenómeno contemporâneo dos Descobrimentos e desenvolveu-se em intima ligação com a empresa ultramarina nacional. Todavia, a arte renascentista só tardiamente chega a Portugal e, de início, apenas através de elementos decorativos associados às estruturas do gótico final. No nosso País, porém, este estilo desenvolveu características ornamentais próprias, definindo entre finais do século XV e inícios do século XVI, uma arte frequentemente denominada como manuelino ou gótico-manuelino.
Estilo Manuelino é um estilo arquitectónico, escultórico e de arte móvel que se desenvolveu no reinado de D. Manuel I e prosseguiu após a sua morte, ainda que já existisse desde o reinado de D. João II. É uma variação portuguesa do Gótico final, bem como da arte luso-mourisca ou arte mudéjar, marcada por uma sistematização de motivos iconográficos próprios, de grande porte, simbolizando o poder régio. O Estilo desenvolveu-se numa época propícia da economia portuguesa e deixou marcas em todo o território nacional.

A REINVENÇÃO DAS FORMAS ARTÍSTICAS - A ARTE DO RENASCIMENTO

A arte no Renascimento.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO DA IMPRENSA NOS SÉCULOS XV E XVI


Partindo da análise do documento 2 da página 13 do manual, responder à questão: 
Porque foi a imprensa uma inovação técnica importante?
Salientando a importância cultural da invenção da imprensa e a sua inserção no contexto das transformações e/ou descobertas operadas na civilização ocidental, redijam um texto com o título "O admirável mundo novo da imprensa nos séculos XV-XVI". O texto poderá ser escrito a pares ou individualmente.

Bom trabalho!

BOM PARA SISTEMATIZAR IDEIAS

O Renascimento Cultural

UMA ABORDAGEM AO RENASCIMENTO

Uma abordagem do renascimento

COMO SE IMPRIMIA UM JORNAL

HISTÓRIA RÁPIDA DA IMPRESSÃO

quinta-feira, 26 de abril de 2018

A REVOLUÇÃO DAS CONCEÇÕES COSMOLÓGICAS

Como Domingo (dia 22) foi Dia da Terra, aqui está um pequeno filme totalmente a propósito (e da matéria também), pois aborda, ainda que de uma forma muito simples, a evolução das conceções cosmológicas, ou seja, como evoluíram as formas de entender o mundo que nos rodeia.

terça-feira, 24 de abril de 2018

O ENCONTRO DE CULTURAS E A DIFICULDADE NA ACEITAÇÃO DO OUTRO

Já sabemos que uma das consequências da expansão foi o encontro de povos que até à altura nunca tinham contactado uns com os outros e, nalguns casos, nem sabiam da existência uns dos outros.
Quem leu (ou vier a ler) excertos da "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto sabe como os portugueses (europeus) viam os vários povos asiáticos.
Para saber mais sobre o assunto, aqui fica este pequeno documentário dedicado a esta obra da literatura quinhentista nacional.


sábado, 21 de abril de 2018

TRABALHO PARA A PRÓXIMA AULA - FAZER UMA BIOGRAFIA

O novo desafio é fazer uma biografia de um português do século XVI que se tenha destacado no pensamento humanista, no desenvolvimento científico ou na literatura, durante o período que estamos a estudar.
Para dar uma ajudinha, aqui fica uma lista de possíveis candidatos (espero que não escolham todos o mesmo):
  • Luís de Camões
  • Pedro Nunes
  • Duarte Pacheco Pereira
  • Gil Vicente
  • Garcia de Orta
  • Amato Lusitano
  • Fernão Lopes de Castanheda
  • João de Barros
  • Gomes Eanes de Zurara
  • Damião de Góis
  • Gaspar Correia
  • Cristóvão da Costa
  • Tomé Pires 
  • Simão Álvares
  • Padre Fernando Oliveira
  • D. João de Castro
  • Sá de Miranda 
  • Garcia de Resende
  • André de Gouveia
  • André de Resende

sexta-feira, 20 de abril de 2018

A GEOGRAFIA CULTURAL EUROPEIA DE QUATROCENTOS E QUINHENTOS

Nos séculos XV e XVI, vive-se um dinamismo civilizacional notável numa Europa que se abre ao mundo e ultrapassa as crises dos finais da Idade Média.
É o tempo do Renascimento, movimento cultural iniciado em Itália que mais adiante iremos abordar pormenorizadamente, e que se propagou a toda a Europa. 


Na Península Ibérica, Lisboa (ver manual, pp. 20-22) e Sevilha são portas abertas para o mundo, como ponto de partida e chegada das rotas transoceânicas que interligam para sempre a Europa, a África, a América e a Ásia.
Pelo conhecimento (de experiência feito) de novas terras, novos mares, novos povos, os países ibéricos contribuem para a vivência universalista da cultura do Renascimento. 
Para toda esta expansão cultural, intercâmbio de ideias e difusão de notícias foi fundamental a invenção da imprensa.


sexta-feira, 13 de abril de 2018

O ENCONTRO DOS MUNDOS

O encontro entre as diferentes culturas, sociedades e economias produz múltiplos e desiguais efeitos em todo o planeta.
A Europa acelera o seu desenvolvimento graças à acumulação planetária de bens materiais e espirituais. A África vive um forte bloqueamento. As civilizações ameríndias sofrem o desmoronamento devido ao tipo de conquista territorial de Castela. As grandes civilizações asiáticas tendem cada vez mais, nos inícios do século XVII, para o isolamento.
Desenvolvimento, bloqueamento, desmoronamento e fecho são facetas da troca desigual que vai constituindo uma economia e uma cultura mundiais.
O Portugal dos Descobrimentos torna-se o Mensageiro do Mundo. É o horizonte informativo dos Descobrimentos que revela à Europa a verdade do continente africano e dos litorais do Oriente e da América do Sul, bem como as verdadeiras formas de ser dos africanos, dos asiáticos e dos ameríndios.
O horizonte informativo dos Descobrimentos produz uma revolução nas formas de vida, não apenas pelo conhecimento desvendado mas também pelas trocas operadas (a mandioca, a papaia e o ananás do Brasil para a África; o coco, a banana e a manga do Oriente para a África e para a América). Os Descobrimentos realizam também a universalização de produtos como o milho, a batata, o vinho, o chá, o tabaco...
A dimensão oral das culturas africanas e ameríndias torna bastante difícil a descoberta da forma como os portugueses são vistos por esses povos.
O mundo árabe, nas suas crónicas sobre os portugueses no Oriente, tem uma imagem de oposição radical mouro-cristão, vendo-nos como inimigos violentos.
Os chineses, que representam para Portugal o modelo de sociedade desenvolvida, vêem-nos como bárbaros de nariz grande e mal-cheirosos, "muito perigosos devido à sua artilharia e aos seus barcos".
Os portugueses surgem aos olhos do mundo como uma novidade e diferença, ora amigável, como no Congo ou em Cochim, ora inimiga.


Não Meças o Passado com o Presente (Luís de Camões)

Portugal surgiu definitivamente na civilização europeia pelas descobertas, e as descobertas são um acto cultural; mais que um acto cultural, são um acto de criação civilizacional. Criámos o Mundo Moderno.


(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 2 de abril de 2018

O CONTRIBUTO PORTUGUÊS PARA O ALARGAMENTO DO CONHECIMENTO DO MUNDO

Nunca é demais lembrar o contributo português para a nova visão do Mundo, aqui em jeito de síntese.

CONTRIBUTOS CIENTÍFICOS E TECNOLÓGICOS DOS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES... E NÃO SÓ...

O universo cultural dos Descobrimentos é composto  por grandes campos temáticos: o da prática e técnica da sabedoria do mar/marinharia; o do contributo para o conhecimento científico; o da antropologia; o da doutrina (ideológica).
Estes quatro campos representam uma adaptação criativa dos saberes tradicionais das culturas europeias clássica e medieval.
Os Descobrimentos constituem uma revolução informativa que nega erros como o da inabitabilidade da zona equatorial e transmite à Europa novidades como a da civilização japonesa.

sabedoria do mar/marinharia compõe-se de conhecimentos objetivos que possibilitam a existência das grandes viagens marítimas dos séculos XV e XVI e que se desenvolvem e sistematizam com essas mesmas viagens.
As obras deste campo consistem em três tipos de documentos: a astronomia náutica; a cartografia e os tratados técnicos de construção naval.

Regime de ventos alíseos no Atlântico
Ao longo das primeiras décadas do século XV, as viagens atlânticas de regresso da Guiné para Portugal deparam com os ventos alíseos e as correntes de norte e nordeste, que dificultam a navegação costeira.
Estes obstáculos ultrapassam-se através da volta pelo largo, começada a praticar com caráter sistemático em meados do século XV; assim, alcançando o mar dos Açores, os navios encontram a noroeste ventos e correntes favoráveis para o regresso a Portugal.

Correntes marítimas do Atlântico

Todo este avanço empírico vai gerar a revolução da náutica astronómica, que é a observação dos astros no mar como medida fundamental para orientar a navegação.
A navegação oceânica astronómica implica o recurso criativo, através da simplificação dos modelos, a vários instrumentos de observação e de medida. Os mais utilizados são o astrolábio e o quadrante náuticos, que dão diretamente a altura angular do astro observado (normalmente o sol), bem como a balestilha e as tavoletas.
Astrolábio
[usoquadr.jpg]
Quadrante
[usobales.jpg]
Balestilha

O anel náutico, o instrumento de sombras, a armila náutica e o semicírculo graduado são outros instrumentos teoricamente propostos.


Armila náutica
Os Guias Náuticos são cadernos de apontamentos, anónimos e coletivos, preparados pelos marinheiros para uma exposição didática das regras, observações e aplicações da náutica astronómica.
Os Livros de Marinharia, fruto coletivo da experiência dos pilotos, são compêndios de princípios normativos e de informações úteis para a navegação.

Livro de marinharia de Bernardo Fernandes : [cerca de 1548) / pref. e notas deA. Fontoura da Costa / 1940 - Click para fechar a janela


Os Diários de Navegação (diários de bordo) são obras onde se registam, dia a dia, as observações náuticas feitas pelos pilotos durante uma dada viagem. Apresentam uma ordem descritiva com um grande peso de informação pontual das realidades náutica, geográfica e antropológica.
Os Roteiros são por excelência o lugar onde se encontra a sabedoria do mar/marinharia e apresentam profundas diferenças relativamente aos roteiros típicos da Idade Média (os portulanos).
O Roteiro de Navegação Oceânica, instrumento técnico-prático e obra de investigação da náutica astronómica, caracteriza-se pela utilização de três novos elementos: o aparecimento sistemático e controlado dos valores da latitude; a evolução dos rumos de magnéticos/agulha (rosa dos ventos); grande quantidade de informações sobre os oceanos quanto a regimes de ventos e correntes, fundos..., o que possibilita a constituição dum banco de dados oceanográficos, meteorológicos e hidrográficos, à escala planetária.
Ao longo do século XVI, a sabedoria do mar/marinharia alcança uma dimensão teórico-crítica que ultrapassa os temas e os problemas presentes ao nível técnico-prático.
Graças às obras de Duarte Pacheco Pereira, D. João de Castro, Pedro Nunes e Fernando Oliveira, entre outros, surge um espaço científico que investiga questões simplificadas ou não abordadas no plano prático.
Entre esses exemplos contam-se, por exemplo, questões como a declinação da agulha de marear, a projeção cartográfica, o rigor ou a criação de instrumentos da altura e tábuas de latitude, a teoria das marés e da proporção, no globo, entre a terra e o mar.

Duarte Pacheco Pereira (c. 1460-1533) é autor do Esmeraldo de Situ Orbis, escrito por volta de 1505-1508.
A obra é uma espécie de tratado global de marinharia da segunda fase de navegação astronómica no Atlântico, reproduzindo um dos primeiros regimentos portugueses do Sol e um dos mais antigos roteiros com latitudes. Tem também um grande interesse pelas descrições que faz de costas e de entradas de portos.

Duarte Pacheco Pereira


D. João de Castro (1500-1548), membro da alta nobreza, é uma grande figura científica e filosófica da cultura dos Descobrimentos.
O Tratado da Esfera e os Roteiros representam as faces teórica e prática, respetivamente, da atividade científica de D. João de Castro, centrada nos temas e problemas da astronomia náutica e da cartografia.
Os Roteiros de D. João de Castro são notáveis investigações experienciais que transformam a viagem em laboratório científico e que tratam de problemas como as alturas/latitudes, as distâncias, as entradas, as derrotas, as "mostras e conhecenças", a ordem das marés e a variação magnética da agulha de marear.

Pedro Nunes (1502-1578), um dos grandes matemáticos do Renascimento, é autor de várias obras teóricas sobre a sabedoria do mar/marinharia.
Pedro Nunes, embora não tenha conseguido uma total e harmoniosa correlação entre a teoria astronómica e as necessidades da marinharia, trouxe grandes contributos à astronomia náutica em casos como as linhas de rumo, as pomas rumadas, os métodos de representação cartográfica, o instrumento de sombras e o nónio.

Nónio de Pedro Nunes
A sua obra mais conceituada é o Tratado da Sphera (...).

cartografia é a ciência da representação plana, parcial ou total, da Terra, segundo uma escala numericamente definida e determinadas convenções.
A cartografia portuguesa dos Descobrimentos, embora herdeira da cartografia náutica medieval do Mediterrâneo, com a chamada carta-portulano, apresenta, para além da imensa informação, algumas inovações e certos desenvolvimentos nas técnicas de representação.

Planisfério de Cantino (1502) - Biblioteca Estense, Modena

A grande importância da carta de rumos dá-se através de quatro elementos: a introdução da escala de latitudes; os planos hidrográficos; a fictícia graduação de longitudes; o registo de sondas.

As grandes viagens marítimas dos portugueses implicam todo um desenvolvimento tecnológico e prático no domínio da construção de caravelas, naus e galeões.
Ao longo do século XV dominam as caravelas de dois mastros latinos com cerca de quinze metros de quilha e cinquenta e sete toneladas.

Caravela equipada com vela latina

A nau da Carreira da Índia é um navio com três mastros, dois redondos e um latino, de cerca de vinte a setenta metros de quilha e com uma média de quinhentas a setecentas toneladas.


A nau

O galeão é um navio de quatro mastros, de alto bordo, armado em guerra, frequentemente utilizado no transporte de cargas de alto valor na navegação oceânica entre os séculos XVI e XVIII. Alguns chegavam às mil e duzentas toneladas e quarenta bocas de fogo.

Galeão
 O Padre Fernando Oliveira é o grande teórico da construção naval e, ao mesmo tempo, o único enciclopedista da marinharia dos Descobrimentos.


O conhecimento da botânica e da farmacopeia orientais passa por três grandes fases.
Na primeira assiste-se a uma mera recolha empírica de informações, com os Roles de Drogas da Índia de Tomé Pires (1516) e de Simão Álvares (1547).
A segunda fase apresenta o tratamento erudito e humanista das informações e dos produtos chegados à Europa, como se vê na obra de Amato Lusitano (1511-1568).
A última fase realiza o encontro destas duas atitudes. Trata-se, então, de no próprio Oriente, com a experiência concreta da botânica e da medicina, produzir obras de informação e de reflexão crítica e erudita, como os Colóquios de Garcia de Orta e o Tratado de Cristóvão da Costa.


As informações sobre a mineralogia, a zoologia e a botânica da África e do Brasil surgem, regra geral, duma forma pontual e descritiva.
Em relação ao Brasil, estes conhecimentos tomam uma dimensão mais sistemática e profunda graças aos cento e doze capítulos que Gabriel Soares de Sousa dedica ao assunto no Tratado Descritivo do Brasil (1587) bem como à História dos Animais e Árvores do Maranhão escrita por Frei Cristóvão de Lisboa entre 1624 e 1627.



Os Descobrimentos fundam, no plano antropológico, o conceito objetivo de Humanidade ao desvendarem a regularidade física na pluralidade espiritual de todos os homens.
A antropologia dos Descobrimentos produz dicionários civilizacionais, essencialmente descritivos, que levam à criação de um código interpretativo do Outro. 
Estas obras apresentam informações profundas sobre diferentes áreas civilizacionais em África (Marrocos, Guiné/Cabo Verde, Congo/Angola, Monomotapa/Moçambique, Etiópia), na Ásia (Próximo Oriente/Terra Santa, Ormuz/Pérsia, Índia, Ceilão, Pegu/Insulíndia, China, Japão) e na América (Brasil, Argentina, Florida).
A antropologia da cultura dos Descobrimentos encontra-se em quatro grandes tipos de documentos: as cartas e relatórios informativos ligados à situação local do Estado e da Igreja; as sistemáticas descritivas do homem e da natureza africana, asiática, ameríndia; os relatos de viagens terrestres e marítimas; as memórias vivenciais (orais) dos mundos, passadas por outros à escrita e dessa forma divulgadas.
Estas obras são fruto de uma experiência vivencial que assenta nos princípios da prova e da verdade, no ver e no ouvir. Assentam nas analogias, tentando aproximar o desconhecido do conhecido, e em hierarquias.

A maior parte dos habitantes anda nua e apenas alguns vestem panos de algodão. O animismo e o islamismo são as características religiosas mais assinaladas, bem como a predominante poligamia e a pontual antropofagia.Os africanos da costa da Guiné/Serra Leoa surgem, aos olhos dos portugueses, organizados em múltiplos reinos e tribos que possuem entre si redes de relação e de dominação política e económica, exercendo o resgate de escravos.
Os africanos da zona do reino do Congo são apresentados como povos de costumes animistas, poligâmicos e esclavagistas. Nesta região existem tribos nómadas e outras sedentárias.
Os habitantes do reino do Monomotapa e da costa oriental de África até Melinde são designados por cafres.
As características mais referidas são a cor negra, baça ou parda da pele e o facto de tanto os homens como as mulheres andarem de tronco nu e cobrirem as suas "vergonhas" (órgãos sexuais) com panos de algodão pintado. As mulheres depois de casadas passam a cobrir o peito, e tanto os homens como as mulheres enrolam os cabelos em forma de fuso.
O reino do Preste João (Etiópia) surge como um espaço abastado e organizado, com variedade de carnes, manteiga, mel e pão de trigo.
Os etíopes são apresentados como cristãos ligados à doutrina e prática do tempo de São Tomé, daí que uma das suas formas de batismo seja a marca ferrada na testa.
Os fartaques habitam a costa da Arábia. O homens são, na sua maioria, bons guerreiros e têm o costume de jamais cortar o cabelo e a barba, o que lhes dá um ar aterrador.
Os persas do reino de Ormuz, tanto os homens como as mulheres, são descritos como gente branca muito alva e formosa que se veste com roupas compridas de algodão e seda. Os ricos gostam de ostentar a sua condição tanto no vestuário como na alimentação.
A Índia é um espaço de inúmeros reinos. O sistema de castas é apresentado como uma diferença de leis, costumes e idolatrias e marca uma separação radical entre os indianos. Há uma hierarquia absoluta entre os homens das diferentes castas, os quais, nas palavras de Duarte Barbosa, não se tocam uns aos outros sob pena de morte.
Os homens malaios são descritos como gentios de belos corpos. Andam nus da cintura para cima e cobrem o resto com panos de algodão. Os mais nobres usam coletes de seda ou brocadilho. Andam descalços e cortam o cabelo ao modo de coroa de frade.
Os chineses surgem, aos olhos dos portugueses, como o exemplo de uma sociedade desenvolvida e organizada.
Os homens e as mulheres têm formosos corpos e uns olhos muito pequenos. Os homens usam uns pelinhos em vez de barba. O vestuário, que consiste em panos de algodão, seda e lã, é bom e variado.
A diferença nas formas de estar à mesa leva Duarte Barbosa a notar que não tocam nos alimentos com as mãos, pois chegam muito o prato à boca e introduzem a comida com umas tenazes de prata ou de madeira..

Hasekura em rome.jpg
Samurai do século XVII
Os habitantes do Japão são, logo em meados do século XVI, apresentados como muito rijos para o trabalho. 
Os japoneses são monogâmicos, embora os honrados e ricos possuam várias mulheres. Estas são vistas como muito limpas, brancas e meigas. Todos mostram uma grande devoção pelos seus ídolos religiosos.
Mulher tupi
A cultura e a sociedade dos tupis caracterizam-se por uma total adaptação ao mundo da floresta tropical.
O ameríndio do Brasil é um nómada com uma organização social assente na tribo, na propriedade comunitária, na poligamia e na antropofagia como ritual de guerra. Dedica-se à pesca e à caça, bem como a uma agricultura rudimentar de cultivo da mandioca, do milho, do algodão e do tabaco. A sua tecnologia vive da pedra, da madeira e do osso.


Ao longo dos séculos XV e XVI, Portugal, através da aventura planetária dos Descobrimentos, constrói toda uma ideologia doutrinária de explicação e valorização da dispersão no mundo.
Este universo de ideias apresenta uma faceta espiritual e de missão civilizacional dos Descobrimentosao mesmo tempo que discute o valor, positivo ou negativo, das novas realidades materiais e comportamentais.



A imagem doutrinária dos portugueses, no plano internacional, alimenta a ideia contraditória de um Portugal ao mesmo tempo europeu e único.
A dimensão europeia e cristã é proclamada nas relações com africanos, asiáticos e ameríndios. Trata-se de destacar a superioridade política, económica, religiosa e tecnológica da Europa no mundo.
A dimensão única nasce da comparação com a restante Europa. A ideologia oficial destaca o fator de absoluta e única fidelidade de Portugal ao ideal cristão de guerra justa contra o infiel islâmico. A restante Europa é desenhada como divisão e hesitação religiosas, representando Portugal a pureza da Cruzada.
A ideologia em torno do sentido e do valor dos Descobrimentos surge, na maioria dos casos, dispersa no interior de obras centradas em outros temas; ela é frequente no teatro, na poesia, no misticismo, em panegíricos e na epistolografia de Quinhentos. Existe, contudo, um outro tipo de obras que, por si só, são autênticas teses de valoração dos Descobrimentos.

Luís de Camões

Na forma literária, as maiores são os Lusíadas, de Luís de Camões (1572), e a Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, publicada em 1614.

Peregrinação
O discurso histórico, em especial o humanista, constrói toda uma doutrina ao redor dos Descobrimentos.

A religiosidade do Outro civilizacional é pensada em duas grandes categorias: frente ao Islão encontra-se uma ideia de radical oposição. O islamismo é o antimundo do cristão. O mouro surge como o grande oposto concorrencial a combater.

João de Barros, autor das Décadas da Ásia
Pelo contrário, as religiões animistas da África e do Brasil, o hinduísmo e o budismo surgem como formas sagradas da gentilidade, espaços neutros possíveis de serem apropriados pela religião cristã. A religiosidade dos gentios é sempre encarada em termos de explicação e de aproximação ao cristianismo.
Os valores da guerra desempenham um papel fundamental na doutrina oficial dos Descobrimentos. O herói militar, ao serviço do rei e de Deus, é uma das figuras chave da ideologia.

Conquista de Ceuta
NOTASPanegíricos - Discursos em louvor de alguém (que elogiam, que enaltecem);
Epistolografia - Cartas, missivas.


IMPERATIVO LER - CARTA DO ACHAMENTO DO BRASIL

Na Carta do Achamento do Brasil (adaptação em português atual)de Pêro Vaz de Caminhaescrita a D. Manuel I em 1500, por altura da descoberta do Brasil pelo navegador Pedro Álvares Cabral, é um documento essencial e curiosíssimo de um momento supremo da História e da cultura portuguesas, e, como tal, um paradigma da literatura de viagens do Renascimento e da cultura nova, de base experimental e tendência crítica.
Trata-se de uma verdadeira carta-narrativa, na qual são descritos a geografia, a fauna, a flora do Brasil, a aparência e a psicologia dos nativos, os métodos e experiências de contacto dos portugueses e as reações mútuas, obviamente a partir de uma perspetiva etnocêntrica que estuda a nova terra e a população com o objetivo de colher algum proveito: «[Nesta terra] não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro, nem lho vimos. A terra, porém, em si é de muito bons ares [...]. Mas o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente».
A própria «salvação» religiosa da população nativa é capitalizável, na medida em que os portugueses acalentavam então a noção de que a grandiosidade dos seus empreendimentos derivaria do facto de os feitos da sua História se relacionarem com a expansão da fé cristã, e portanto beneficiarem sempre da proteção de Deus. É a mesma conceção providencialista da História portuguesa que encontramos em Os Lusíadas. A expansão era encarada, não só como o alargamento da civilização e da cultura em que o Homem de então mais perfeitamente realizava as suas potencialidades - a portuguesa -, mas também Deus mais dilatava no mundo a sua lei. Numa perspetiva humanista e neoplatónica, portanto, era através da expansão portuguesa que o Homem se aproximava cada vez mais do estatuto divino, o qual, aliás, se cumpre metaforicamente nos cantos finais de Os Lusíadas .
Deste modo, a Carta do Achamento do Brasil é um documento fundamental para a compreensão do Renascimento português, logo, também da História do mundo.

ATÉ CHEGAR AO BRASIL...

E AS VIAGENS PARA OCIDENTE?

Segundo o cronista açoriano do século XVI Gaspar Frutuoso, João Vaz Corte Real terá chegado à Terra Nova, zona da pesca do bacalhau, por volta de 1472-74. Seguramente em 1500-1501, o seu filho Gaspar Corte Real atinge a Gronelândia e o Norte da América.
Cerca de 1495, João Fernandes Lavrador e Pedro de Barcelos atingem o Lavrador e a baía de Hudson.
A 9 de março de 1500 parte de Belém uma armada de treze navios, chefiada por Pedro Álvares Cabral, com destino a Calecute. A 22 de abril de 1500, a armada avista a terra de Vera Cruz, fazendo o "achamento" do Brasil.

O nome por que fica conhecida a nova terra nasce do facto de aí se ter encontrado em abundância pau-brasil, uma madeira tintureira que a Europa importava então da Ásia.
Entre 1500 e 1530, os portugueses fazem a exploração do litoral brasileiro, comerciando pau-brasil e aves exóticas. Apenas no tempo de D. João III (entre as décadas de 30 e 40) surge um projeto de colonização do Brasil, que é ditado, em grande medida, pela pressão da pirataria costeira francesa, a qual constitui um perigo para a Carreira da Índia.

A formação do mundo brasileiro resulta principalmente do encontro do colono português, senhor das terras, do gado e dos engenhos de açúcar, com o ameríndio e com o escravo africano, vindo a princípio das costas da Guiné e em seguida do Congo/Angola.
O Brasil é também resultante do encontro da Coroa portuguesa e das suas medidas administrativas de descentralização (como o sistema de capitanias - 1534) e de centralização (como o governador-geral - 1548/49) com a Companhia de Jesus e o esforço missionário de padres como Manuel da Nóbrega e José de Anchieta.

A CAMINHO DO EXTREMO ORIENTE

Os primeiros contactos dos portugueses com a ilha de Ceilão (atual Sri Lanka) ocorrem em 1506, quando da chegada de uma armada chefiada por D. Lourenço de Almeida.
Ceilão é particularmente rica em canela, pedras preciosas e elefantes. A presença portuguesa na região data de 1518, ano da construção da fortaleza de Columbo.
Em 1509, uma armada chefiada por Diogo Lopes Sequeira procede a um reconhecimento da ilha de Samatra e da cidade de Malaca. Esta cidade, o principal centro de comércio da Insulíndia, é conquistada por Afonso de Albuquerque em 1511.
Malaca tem uma valiosa posição estratégica no controlo das rotas mercantis entre os oceanos Índico e Pacífico. Por ela passam lucrativos produtos como a pimenta, a noz-moscada, a maça, o cravo, a cânfora, o cobre e o ouro.

De 1511 a 1515, os portugueses exploram parte das ilhas da Australásia, desde Java e Molucas a Timor.

















As ilhas Molucas produzem em grande quantidade cravo e noz-moscada, especiarias das mais valiosas. Esta sua riqueza torna-as particularmente cobiçadas.
Na ilha de Ternate, descoberta em 1512 por Francisco Serrão, constrói-se dez anos depois uma fortaleza que passa a ser o centro da autoridade portuguesa sobre o comércio das Molucas.
Os contactos dos portugueses com as ilhas de Solor e de Timor desenvolveram-se com vista à obtenção de sândalo.
Nota: O arquipélago das Molucas localiza-se na Indonésia a sul das Celebes.

O primeiro português a chegar à China terá sido Jorge Álvares, em 1513. Nos anos seguintes estabelecem-se relações mercantis irregulares, sendo aprisionados vários mercadores portugueses. Igual destino tem, em 1517, a primeira embaixada portuguesa ao imperador da China, sob a direção do boticário Tomé Pires.
Em 1557, as autoridades chinesas legalizam a presença portuguesa na pequena povoação de Macau, que se torna a partir de então um grande centro do comércio da seda e da porcelana, com carreiras regulares para o Japão e Malaca-Goa.

Macau e o Delta do Rio das Pérolas
1543 é a data provável da chegada dos portugueses ao Japão. Até aos inícios do século XVII crescem as relações luso-nipónicas.
Naus e galeões portugueses partem anualmente de Macau para o Japão levando sedas e porcelanas e trazendo prata e ouro.

Gravura japonesa do século XVI mostrando os namban-jin (os bárbaros do sul, nome dado aos portugueses)
Nagasáqui, cidade de urbanismo português é, desde 1571, o principal centro de comércio e de religiosidade de Portugal no Japão, com o seu porto, seminário, igrejas e oficina de impressão.

A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO PORTUGUÊS DO ORIENTE

Estado da Índia é o termo dado ao conjunto de feitorias e cidades fortificadas que se estende de Sofala a Macau.
A sua direção política assenta na autoridade dos governadores ou vice-reis, que têm como principais funções a direção de armadas, a defesa e ocupação de praças (fortalezas e respetivos territórios sob o seu domínio), a nomeação e comando de quadros militares e administrativos, a distribuição de missões de exploração e a organização de atividades económicas.
D. Francisco de Almeida, 1º vice-rei do Estado da Índia
Afonso de Albuquerque é o grande criador do império comercial português do Oriente. Depois de uma primeira missão na Índia (1503-1504), regressa em 1506, e entre 1509 e 1515, como governador, realiza o seu projeto político.

A conquista de Goa (1510), Malaca (1511) e Ormuz (1515) correspondem à tentativa de domínio estratégico das grandes rotas comerciais marítimas do Índico, da Insulíndia (os arquipélagos da Malásia) e do golfo Pérsico.

Ficheiro:Location Malay Archipelago.png
Localização da Insulíndia

O conhecimento português da costa da Arábia nasce com a viagem de Vicente Sodré em 1503. As tentativas, que nunca resultaram, para fechar a rota muçulmana do Levante começam com Afonso de Albuquerque em 1507.
A cidade de Ormuz, situada na ilha à entrada do golfo Pérsico, é um importante centro comercial e estratégico entre a Pérsia-Arábia e o Malabar.

Costa do Malabar - sudoeste da Índia

Por Ormuz passam produtos como cavalos da Arábia e da Pérsia, veludos, sedas, tapetes e pérolas. Na cidade cunham-se os preciosos xerafins, moeda muito apreciada na Índia.

Localização de Ormuz à entrada do golfo Pérsico

Em 1507, Afonso de Albuquerque obriga Ormuz a prestar vassalagem ao rei de Portugal e inicia a construção de uma fortaleza, concluída em 1515.

Goa, grande centro cosmopolita e mercantil, é a capital do Estado da Índia.
A cidade apresenta uma rica arquitetura portuguesa, destacando-se o Hospital Real de Todos os Santos, a Sé, a Rua Direita e várias igrejas.

Vista de Goa em 1509
Goa é um dos pólos de evangelização na Ásia. Diocese desde 1533, alberga várias ordens religiosas, como os jesuítas, desde 1542.
A vida social é dominada pela aristocracia portuguesa e por uma atmosfera de sincretismo (fusão) cultural luso-indiano, patente na política de casamentos entre portugueses e indianas incentivada por Afonso de Albuquerque.

"ENTREVISTA" COM UM NAVEGADOR


Para melhor compreender como era a vida a bordo das naus, nada melhor do que falar com alguém que está habituado às viagens de navegação.
Aqui está uma entrevista com um especialista na matériaGil Vazum português das Descobertas.

Reporter É uma honra entrevistar alguém que viveu o seu dia-a-dia numa das naus das Descobertas. Falemos de embarcações...
Gil Vaz - As naus portuguesas da carreira da Índia eram, naquela época, os maiores navios do mundo. A nau Porto Seguro, onde embarquei pela última vez para a Índia, levava cerca de 800 pessoas.
R. - A partida devia ser emocionante!
G. V. - Era de facto, mas não partíamos do Terreiro do Paço, onde embarcávamos, mas de Belém. Durante dias esperávamos ventos favoráveis... O único motor que tínhamos era o velame e o único combustível, o ar.
R. - Os capitães deviam ser homens muito experientes nas coisas do mar!
G.V. - Nada disso! Os capitães muitas vezes não sabiam distinguir um astrolábio de um quadrante. Os problemas náuticos eram resolvidos pelo piloto.
R. - Fale-nos agora sobre a alimentação a bordo.
G.V. - Os alimentos transportados em viagem eram carne salgada, peixe seco ou salgado, arroz, presunto, biscoito (pão cozido várias vezes para ficar bem seco e durar mais), azeite, vinho, sal, vinagre (que servia como alimento, bebida, desinfetante para esfregar o barco e limpar as armas), frutos secos, alhos, cebola, farinha, açúcar, mel, conservas de doce e alguns animais vivos para se matarem pelo caminho, sem esquecer a água doce, o mantimento mais importante e indispensável... Depois, no fogão...
R. - No fogão?
G. V. - Sim, não havia cozinheiro a bordo. O que havia era uma grande caixa de terra barrenta sobre a qual se fazia lume de lenha. Cada um cozinhava para si, à exceção dos ricos que levavam criados ou escravos. As filas que se formavam diante do lume eram muitas vezes motivo de conflito. A alimentação dos passageiros era levada e administrada por eles próprios. A dos tripulantes, soldados e passageiros que viajavam por conta do Estado, era distribuída pelos despenseiros. Mas às vezes tudo isto faltava e a necessidade era tão grande que cheguei a ver familiares a agredir-se por um gafanhoto, besouro ou lagartixa, ou ainda a tentar comer a sola dos sapatos.
R. - E como passavam o tempo?
G. V. - Das mais variadas maneiras. Tantos homens juntos em tão pouco espaço e a maioria sem nada que fazer originava, por tudo e por nada, discussões, brigas e pancada. Havia pois que manter a disciplina e tentar arranjar ocupações. As cerimónias religiosas eram várias e com uma dupla finalidade: pedir a protecção divina e entreter os homens. Uma destas cerimónias era a procissão. Reuniam-se todos junto ao altar e daí formavam um cortejo que percorria todo o barco, entoando cânticos religiosos e rezando em coro. As leituras e o teatro eram também muito apetecidos. As touradas simuladas eram também um espectáculo bem agitado. As pescarias eram uma distracção útil, pois assim se obtinham alimentos frescos. Os marinheiros pescavam à linha, fazendo depois leilões do seu pescado.
R. - Enfim, na nau levava-se uma santa vida!
G. V. - Meus senhores, vê-se bem que nunca viveram uma calmaria no equador! E as doenças? Na primeira parte da viagem a doença mais vulgar era o enjoo. Na zona das calmarias tudo se complicava. O calor estragava os alimentos e a água ficava tão malcheirosa que era preciso tapar o nariz para a beber. Faltavam os alimentos frescos. Surgia então a pior das doenças a bordo - o escorbuto, que inchava as gengivas, os pés e as mãos, fazia apodrecer os dentes e dava um tão grande mal-estar que muitos não resistiam. E havia também outras epidemias graves, como a cólera e o paludismo; na zona dos frios, surgiam as gripes e as pneumonias. Logo que alguém adoecia, lá vinha o padre confessá-lo e o escrivão anotar as suas últimas vontades. Os cadáveres eram atirados ao mar. A higiene era nula. Nada de lavagens nem de banhos, pois havia que poupar a água doce. Sanitas não havia: ou se usava o porão para esses fins ou uma tábua furada e posta fora da amurada.

A VIDA A BORDO DOS NAVIOS DOS DESCOBRIMENTOS



A vida nestes navios era muito dura. As tripulações, mal abrigadas do tempo, dormiam quase sempre no convés. Só os principais dispunham de um pequeno cubículo no castelo da popa. Dormia-se vestido e andava-se descalço.
As grandes velas latinas das caravelas, em vergas que excediam o comprimento do navio, requeriam uma atenção constante, eram de difícil manobra com ventos fortes e, quando molhadas, eram muito pesadas.
Com intervalos de alguns meses, a caravela tinha de ser carenada numa praia. A madeira do forro do casco era limpa dos limos que reduziam a velocidade e era protegida contra o teredo (molusco que perfura as madeiras imersas e muito ativo em águas quentes). O calafeto também era reparado e reviam-se o massame, as velas e a mastreação.
No convés, que por ser de madeira tinha de ser molhado diariamente para se manter estanque, além do batel, dos remos, vergas e sobressalentes e alguns abastecimentos, muitas vezes havia galinhas e outros animais vivos para consumo durante a viagem, tudo isto bem amarrado e em locais que não estorvassem a manobra. O resto da carga era arrumada no convés e no porão (situado por baixo do convés e onde, além do lastro de pedras, se guardavam os barris com água e vinho, os abastecimentos, velas, cabos etc).


A água das infiltrações do forro e do convés acumulava-se no fundo e tinha de ser retirada. Os barris com os balanços acabavam por derramar. Os mantimentos embarcados em Portugal, à base de pão, biscoitos, carne salgada e peixe seco, azeite, mel e frutos secos, depressa se estragavam, no ambiente quente e húmido. E os ratos e as primas ratazanas sempre foram hóspedes indesejáveis a bordo dos navios de todos os tempos.
A água doce, em barris de madeira, era um bem precioso que se tinha de poupar. Após algumas semanas, sobretudo em climas quentes, inquinava.
Quando o tempo permitia, cozinhava-se uma refeição quente no convés, num local abrigado do vento. O lume era de carvão ou lenha e ardia sobre terra ou areia.
A pesca, mesmo a navegar, era uma ocupação frequente. Logo que se chegava a terra procurava-se água, alimentos frescos e lenha.

O frio, o calor e a humidade eram suportados sem equipamento nem vestuário mais conveniente. As doenças causadas pela má alimentação e as doenças tropicais eram rudimentarmente tratadas. Sem comunicação com o exterior e sem apoios em terra, as tripulações estavam entregues a si próprias. Muitos não regressavam a casa, mas a maioria dos que voltavam tornava a partir.

VAMOS FAZER A VIAGEM COM VASCO DA GAMA



Aqui podemos fazer a viagem para a Índia, na nau com o próprio Vasco da Gama.
Há muitas coisas para aprender sobre a viagem e a forma como se vivia nesses navios das descobertas.
 Espero que se divirtam!

O ENCONTRO COM O ORIENTE - A ROTA DO CABO

Em 1497, D. Manuel envia uma armada de quatro navios, com cerca de cento e cinquenta homens, chefiada pelo fidalgo Vasco da Gama, à descoberta da via marítima para a longínqua Índia das especiarias.
A armada parte do Restelo a 8 de julho (um sábado), passa pelas Canárias, para em Cabo Verde, dá uma larga volta pelo Atlântico Sul e passa o cabo da Boa Esperança a 22 de novembro.
Entre o Natal de 1497 e 24 de abril de 1498, a armada explora a costa oriental de África e a 18 de maio de 1498 atinge a Índia a norte de Cananor.

Armada
A armada de Vasco da Gama
Os contactos diplomáticos e económicos estabelecidos por Vasco da Gama com o Samorim de Calecute não resultam, devido à hostilidade dos mercadores muçulmanos.
Mas, ao regressarem a Lisboa (10 de julho de 1499) os portugueses haviam inaugurado uma nova era nas relações mundiais.
A viagem da armada de Vasco da Gama abre a Carreira da Índia, ou Rota do Cabo, isto é, a ligação marítima regular entre o Ocidente e o Oriente.
As armadas compostas por um número variável de navios, (entre três e vinte) partem de Lisboa, na maior parte dos casos em março ou abril, alcançando Cochim ou Goa em setembro/outubro. A viagem de regresso inicia-se em dezembro/janeiro.
A rota é semelhante à de Vasco da Gama, procurando-se, contudo, um número mínimo de escalas. À ida, dobrado o cabo da Boa Esperança há a possibilidade de uma rota pela ilha de Moçambique ou a de uma volta por fora da ilha de S. Lourenço (Madagáscar).
Rota do Cabo

A EXPLORAÇÃO DA COSTA AFRICANA

O conhecimento do litoral africano nasce com a passagem do cabo Não e com o dobrar do cabo Bojador (1434) por Gil Eanes.
A exploração geográfica e económica da Guiné inicia-se nas décadas de 40 e 50 do século XV. Por volta de 1448 estabelece-se uma feitoria em Arguim e em 1460 alcança-se a Serra Leoa (limite das navegações na fase henriquina). 
As caravelas que realizam estas viagens partem sobretudo de Lagos. É a partir desta região algarvia que o infante D. Henrique controla as atividades marítimas e económicas, de que detinha o monopólio desde 1443. O comércio é muito lucrativo obtendo-se ouro, escravos, marfim, malagueta e outros produtos por troca com tecidos, trigo, objetos de cobre e latão, cavalos e sal.


O descobrimento das ilhas de Cabo Verde inicia-se entre 1456 e 1460 e o seu povoamento em 1462. Santiago torna-se o grande centro do comércio de escravos e de outros produtos da região costeira da África Ocidental.
A data do descobrimento de S. Tomé e Príncipe é incerta, podendo ter ocorrido entre 1471 e 1475. A sua principal riqueza é a produção açucareira.
D. João II promove a exploração do litoral africano a sul do Equador de modo a alcançar a ligação Atlântico-Índico.

D. João II
Cerca de 1482, Diogo Cão descobre o rio Zaire e envia emissários ao rei do Congo para obter informações sobre a região. Nesta primeira viagem atinge o cabo de Santa Maria, 150 km a sul de Benguela, julgando estar próximo o extremo sul da África. Em 1485 realiza uma segunda viagem de exploração, alcançando a serra Parda. 
Em 1487, D. João II, na continuidade do seu projeto, envia Bartolomeu Dias com três navios em busca do desejado extremo sul da África e da ligação Atlântico-Índico.
A expedição alcança o seu objetivo ao ultrapassar o cabo da Boa Esperança (a 3 de fevereiro de 1488 atinge a Angra dos Vaqueiros). Ao saber do feito, D. João II, no dizer de João de Barros, chamou-lhe "cabo de Boa Esperança, pela que ele prometia deste descobrimento da Índia, tão esperada e por tantos anos requerida".
Cabo da Boa Esperança
O litoral da África Oriental começa a ser conhecido pelos portugueses a partir da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia (1497-99). A sua armada percorre vários pontos da costa desde o Natal a Melinde, passando por Inharrime, Quelimane, ilha de Moçambique e Mombaça.
A partir dos primeiros anos do século XVI ocupam-se vários pontos estratégicos, sendo a ilha de Moçambique o mais importante. Aí se constrói uma primeira fortaleza, em 1507, tendo como objetivo o apoio à Carreira da Índia e ao comércio africano.


Os portugueses tomam conhecimento, através dos contactos comerciais com os muçulmanos, da produção de ouro no interior, em especial no reino do Monomotapa, bem como das vias do seu escoamento para Sofala e Angoche.

Em Setembro de 1505 começa a funcionar a feitoria portuguesa de Sofala, onde se troca o ouro por panos europeus e orientais.



Desde o tempo do infante D. Henrique que os portugueses procuram contactar com o reino do Preste João, potência cristã cercada pelo mundo islâmico.
Cerca de 1492, Pêro da Covilhã chega, por terra, ao reino do Preste João, na Etiópia, mas as relações diplomáticas de Portugal com esse reino só se iniciam com a embaixada de D. Rodrigo de Lima (1520-26).

AS ILHAS ATLÂNTICAS

A partir de 1419, os portugueses passam a navegar regularmente para as ilhas de Porto Santo e da Madeira, já representadas na cartografia mediterrânica do século XIV.
O arquipélago começa a ser povoado por volta de 1425, através do sistema de capitanias, tendo João Gonçalves Zarco ficado com a do Funchal, Tristão Teixeira com a do Machico e Bartolomeu Perestrelo com a de Porto Santo.
A população em 1455 ronda os 800 habitantes. Pela mesma altura a cultura da cana de açúcar, já então introduzida, prospera rapidamente, tornando-se a principal riqueza da Madeira. Ainda durante o século XV começa a produção do vinho, que ao longo dos séculos XVI e XVII alcança grande importância.

Porto Santo
As ilhas orientais dos Açores são descobertas, provavelmente, por Diogo de Silves, em 1427, enquanto as ilhas mais ocidentais, Flores e Corvo, apenas são identificadas por Diogo de Teive em 1452.
O povoamento do arquipélago inicia-se em 1439, seguindo o sistema da divisão por capitanias já utilizado na Madeira. Os Açores desenvolvem uma economia baseada na produção de trigo, na criação de gado e na recolha do pastel.
O arquipélago, graças à sua excelente posição estratégica, é uma importante base para a navegação atlântica. Os navios que vêm de África, da Índia, do Brasil e da América Central passam por ali, devido aos ventos favoráveis ou para se reabastecerem.
O crescimento da cidade de Angra (1534) atesta esta posição-chave nas carreiras das Índias Ocidentais e Orientais.

Cidade de Angra (do Heroísmo), Terceira, Açores